Um Autêntico Autodidata

Said Salomão era um homem de pouco estudo, cursou até a quarta série em árabe, quando ainda estava na Síria.


Chegando ao Brasil nunca frequentou uma escola, pois seu tempo era completamente preenchido pelo trabalho árduo.


Aprendeu sozinho a falar, ler e escrever em português, deve se ressaltar que o idioma árabe é muito diferente do nosso.
" O árabe, além de não usar o nosso alfabeto, usa um alfabeto que é escrito da direita para a esquerda(o oposto da nossa escrita da esquerda para direita).Apesar de ser conhecido como um alfabeto, na verdade a escrita árabe é um Abjad, ou seja, a construção das palavras não se dá pela formação de silabas pela união de duas ou mais letras, mas sim, cada letra pode por si só possuir o som de uma sílaba. Sendo assim, o alfabeto árabe é pobre em vogais, sendo essas representadas somente quando seu som é longo. O alfabeto árabe tem só o A, I e U, para ajudar tem uns acentos que também servem de vogal e ninguém põe acento quando se escreve, então você tem que descobrir ou decorar a palavra.
Uma característica interessante que resulta do fato de as palavras serem pobres em vogais escritas (porém faladas) é que somente se consegue ler corretamente a palavra se essa for previamente conhecida. Por exemplo, a palavra peixe em árabe é "samaku" porém é escrita no alfabeto árabe somente com as letras que correspondem no alfabeto latino a S, M e K sendo escrita então desta maneira “smk” (سمك) , o que torna impossível ler suas vogais sem conhecer a palavra, a não ser que estejam presentes na escrita símbolos indicadores de vogais. (fonte;"Letra, livros e afins).

Sempre penso como ele conseguio falar e escrever ( Said tinha uma letra muito bonita, desenhada) tão bem o português diante dessas diferenças entre essas duas línguas, claro que ele manteve ainda o forte sotaque árabe, mais tinha uma ótima pronuncia e um escrita perfeita.

Apesar de nunca ter frequentado a escola Said Salomão era o que se chama de autodidata, Said adorava ler e se informa, estava sempre a par dos acontecimentos do Brasil e do mundo, sabia muito História, geografia, além de ser excelente nos cálculos, que ele sempre fazia sem o uso de calculadora e como fazia rápido, tinha uma técnica fantástica.

Com ele aprendi o gosto pela leitura, lembro que ele sempre me emprestava seus livros para ler e depois comentar a respeito com ele, e assim ele ia ensinando a interpretar e entender a mensagem dos livros maravilhosos.
Quanta sabedoria detinha esse homem de tão pouco estudo formal.

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