O encontro das ruas Floriano Peixoto e Jaime Brasil foi por muito tempo o principal referencial das casas comerciais da Cidade de Boa Vista. Foi ali, na década de 50, em um grande casarão de imponente e majestosa escadaria deu lugar a uma das mais prósperas e tradicionais casas comerciais da cidade de Boa vista, cujo nome respira silenciosamente fortes lembranças, “Bandeirantes”.Na verdade, uma época que parece distante para os que passam sem perceber e vão ao encontro do silêncio das portas fechadas à espera de uma tão sonhada reforma. Mas somente a história e os moradores mais antigos da cidade são testemunhas desse período. O antigo casarão personifica a síntese dos primeiros homens negociantes que escolheram para viver e negociar em Roraima e, sob o olhar silencioso do velho Rio Branco que banha toda a cidade.Toda essa história começa no final dos anos 20 quando o então adolescente Said Salomão, um imigrante sírio, que universalizava a forma muito própria de negociar. “Um espírito de aventura... O mundo, por maior que fosse, era pequeno”. Lembrava Said com minúcias toda a sua trajetória. Lembrança de sessenta dias de viagem (Beirute – Haifa – Egito – Marselha – Paris – Havre – Berloute – Manaus e finalmente Boa Vista).Esse homem, na generosidade de sua lembrança partilhou informações preciosas sobre o cotidiano de sua vida, cuja agenda guarda no silêncio de suas escritas gravadas com o próprio punho a saga desse imigrante. Mercador nato, no “Bazar das Novidades”, local onde estar instalada a “Livraria Universitária”, era encontrado estufa, café, açúcar, tecidos, redes, mosquiteiros, botinas e chapéus, cuja mistura das mercadorias atendia a necessidade dos fregueses, como ele costumou chamar. Já na década de 30 com a chegada do garimpo temos um acréscimo de variedades.O velho mercador vendia tudo, da bicicleta ao jipe, enxovais para casamento e batismo e até materiais para o mais exigente folião momesco. “Tudo isso, divide o comércio de Roraima, antes e depois de Said Salomão”.Patriarca de uma das mais tradicionais famílias de Boa Vista. Said Salomão entra para a história como um dos mais legítimos desenvolvimentista do promissor Estado de Roraima.Atrevo-me a dizer que Said Salomão, na autenticidade de sua raça, e na genialidade de sua expressão generosa, encarna ele mesmo, onde quer que esteja agora, um desses momentos do viver para servir no sublime sacerdócio de ser generoso. Aconteceu à metamorfose, o espírito encontrou-se com Deus, sua matéria-prima foi entregue a terra que ele tanto amou. Tendo deixado toda a motivação para todos aqueles que o amaram no seu significado mais puro e mais verdadeiro desse mercador de sonhos.Agora cabe aos parentes e amigos agasalhar, nos desvão dos seus mundos interiores, todos os motivos, todos os sonhos, todas as crenças no seu espírito de luz, cujo brilho de sua estrela ele carregou das noites em que velava, como pastor seus camelos, e cuja única proteção era a velha fonda que sua mãe guardou por 30 anos como lembrança.É nesse apostolado de eleitos, que coube a Said Salomão, com a grandiosidade de seu talento, o mister de plasma em si mesmo toda a ambiência, toda a vivência de sua terra e de sua gente. Ele usou o labor humanamente inexplicável de criar a tudo isso e, principalmente, buscando o que está situado para muito além dos nossos olhos pobres de carne, ele estar com Deus.Velho Said Salomão és portal mágico, gesto eterno de abrir espaço – infinito céu de alvoradas policrômicas transcendentalismo de acontecimentos e intenções. Por ti desliza, mansamente, todos os sonhos, todas as ilusões com suas transparências e apelos quando no cair da tarde mageava com os teus olhos o velho Rio Branco.És guilhotina e desejos de esperanças. Portal de bronze, de ferro, de madeira ou simplesmente o vão de um abraço, és uma porta – simplesmente porta com tua forma estática de ser justo e generoso.
* Diretor do Instituto Cultural da Fundação Rede Amazônica
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