JESUS POETA

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   Ele era um poeta. Via por nossos olhos e ouvia por nossos ouvidos e nossas palavras silenciosas estavam em seus lábios; e seus dedos tocavam o que não podíamos sentir.

  Saindo do seu coração, incontáveis pássaros cantores que voavam para o norte e para o sul, e as pequenas flores das encostas sustentavam seus passos rumo aos céus.

  Vi-o, muitas vezes, curva-se para tocar as folhas da relva. E em meu coração, ouvi-o dizer: “ Pequenas coisas verdes, estareis comigo em meu reino, do mesmo modo que os carvalhos de Bessam e os Cedros do Líbano.

  Ele amava todas as coisas belas, as faces acanhadas das crianças e a mirra e o incenso do sul. Amava uma romã ou uma taça de vinho a Ele oferecida com bondade, não importando que lhes oferecessem um estranho na estalagem ou um rico hospedeiro.

E amava as flores da amendoeira.Vi-o colhendo em suas mãos e cobrindo a face com as pétalas, como se abraçasse com seu amor todas as árvores do mundo.

Conhecia o mar e os céus; e falava das pérolas que têm luz que não é desta terra, e das estrelas que estão além de nossa noite.

Conhecia as montanhas como as águias  conhecem, e os vales como conhecem os arroios e as correntes.E havia um deserto em seu silêncio e um jardim em seu falar.

Sim, era um poeta cujo coração morava num caramanchão além das alturas; e suas canções, embora cantadas para nossos ouvidos, eram cantadas também para outros ouvidos e para homens de outra terra, onde a vida é eternamente jovem e o tempo é sempre a aurora.

Uma vez, eu também me considerei poeta, mais quando estive diante Dele, na Betânia, soube o que é empunhar um instrumento de uma corda só, diante de quem comanda todos os instrumentos. Pois em sua voz havia a risada do trovão e o choro da chuva e a alegre dança das árvores ao vento.

  e desde que soube que minha lira tinha apenas uma corda e que minha voz não tecia as memórias de ontem nem as esperanças de amanhã, pus de lado minha lira e guardarei o silêncio. Mas sempre ao crepúsculo ficarei atento, e escutarei o poeta que é soberano de todos os poetas.

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