Diz ele que, assim que terminou de construir o mundo, um dos anjos advertiu o Todo-Poderoso que esquecera de colocar areia na Terra; grave defeito, se considerarmos que os seres humanos estariam privados para sempre de caminhar junto aos mares, massageando seus pés cansados e sentindo o contacto com o chão.
Além disso, o fundo dos rios seria sempre ríspido e pedregoso, os arquitetos não poderiam usar um material indispensável, as pegadas dos namorados seriam invisíveis; disposto a remediar seu esquecimento, Deus enviou o Arcanjo Gabriel com uma enorme bolsa, para que derramasse areia em todos os lugares que fosse necessário.
Gabriel, desolado, foi pedir desculpas ao Senhor, por ter deixado que o Inimigo se aproximasse sem ser visto. E Deus, em Sua infinita sabedoria, resolveu recompensar o povo árabe pelo erro involuntário do seu mensageiro.
Criou para eles um céu cheio de estrelas, como não existe em nenhum outro lugar do mundo, para que sempre olhassem para o alto.
Criou a tenda, permitindo que as pessoas se movessem de um lugar para o outro, sempre tendo novas paisagens ao redor, e sem as obrigações aborrecidas de manutenção de palácios.
E lhe deu algo mais precioso que estas e todas as outras coisas juntas: a palavra, o verdadeiro ouro dos árabes. Enquanto os outros povos modelavam os metais e as pedras, os povos da Arábia aprendiam a modelar o verbo.
E conclui Alejandro Dolina:
“Os erros de Deus, como os de grandes artistas, ou dos verdadeiros enamorados, desencadeiam tantas compensações felizes, que as vezes vale a pena deseja-los”.
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