Um dia deste me detive a te olhar, demoradamente, como se fosse o espelho que a vida, caprichosamente, colocou diante de meus olhos. Olhei-te, detalhadamente, e vi que o inverno dos anos vai, impiedosamente, marcando tuas cãs, tingidas e cinzentadas pelas mãos hábeis do mais intransigente dos artistas: o tempo.
O que era ontem passou a ser hoje e, este, será amanhã, nessa corrida vertiginosa e inexorável dos minutos, pela escadaria dos anos afora. Olhei-te e percebi que sulcos profundos traçam em teu rosto, indelevelmente. Vi que tua face e tua fronte foram transformadas numa exposição de artes, onde a vida representou as lembranças do passado, deixando ali, emolduradas, cenas de angústias e ansiedades, tristezas e alegrias, derrotas e vitórias. Olhei o teu porte, outrora vigoroso e intrépido, e senti que aos poucos te vais alquebrando. Teus braços, ainda ontem eram ágeis e me sustiveram, teu peito amigo foi sempre meu escudo e meu aconchego, teu coração paterno sempre pulsou e vibrou de emoção pelos teus filhos, teus olhos já retiveram algumas lágrimas, é verdade, mas também brilharam intensamente de contentamento. Gostei de te ver, assim, com os pés na terra, cabeça no lugar, sem nunca ter pretendido ser super-homem, nem machão...
Meu querido velho. Nasceste gente e isto me basta. Nasceste para ser simples e pouco importa se não possuas mais. Não me preocupa com carro novo, nem com muito dinheiro no banco, nem com casa de campo ou casa na praia. O importante para mim é que sempre soubestes ser grande no amor e na verdade. Fostes muito grande no ideal e maior, ainda, em tua fé. Olhei-te e vi que tinhas um pouco dos seres da terra e um pouco dos seres do céu. Continuei a te olhar e me lembrei de meu tempo de criança: descobri que era bom demais. Achei bom te ver diante de mim, como no espelho, ajeitando o rosto, acertando o cabelo. Fiquei orgulhoso de ter um pai-gente, um pai que nunca permitiu que me deitasse com os olhos marejados de pranto, temeroso ante a incerteza do amanhã, Ao contrário, sempre deu-me serenidade e a certeza do sucesso, a ponto de cantar aos ouvidos do mundo a minha ventura. Sou venturoso e devo a ti, meu querido velho, o que sou. Por isto, ao ver-te e verificar que tuas pálpebras jamais se cerraram sem que em tuas pupilas ficassem gravadas a minha imagem e a dos meus irmãos, sinto acender-se em meu coração, como uma estrela, o desejo de ser bom e de te fazer, no mundo, o mais feliz dos homens.
Um abraço, meu querido velho, Feiliz aniversário.
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