Um relance sobre o futuro

Khalil Gibran

 

Sino da igreja de Vitrolles, Franca

De trás dos muros do Presente ouvi os sinos da Humanidade.
Ouvi os sons dos sinos a anunciar o início das orações no templo da Beleza. Sinos moldados no metal da emoção e colocados sobre o altar sagrado – o coração humano.


Por trás do futuro vi multidões a adorar no seio da natureza, com as faces voltadas para o oriente e esperando a inundação da luz matinal – o amanhecer da Verdade.


Vi a cidade em ruínas e nada restar para contar ao homem a derrota da ignorância e o triunfo da Luz.


Vi os anciãos sentados à sombra de ciprestes e salgueiros, rodeados de jovens que escutavam as suas histórias de tempos idos.


Vi os jovens a dedilhar as suas guitarras e a tocar as suas flautas, e jovens mulheres de cabelos soltos dançam sob as árvores de jasmim.


Vi os homens a ceifar o trigo e as mulheres a recolher os molhos e a cantar canções alegres.


Vi uma mulher a enfeitar-se com uma coroa de lírios e um corpete de folhas verdes.

Vi a Amizade fortalecida entre o homem e todas as criaturas, e clãs de aves e borboletas a voar em direcção aos riachos, com confiança e segurança.


Não vi pobreza; nem encontrei excesso. Vi a fraterniadade e a igualdade a prevalecer entre os homens.


Não vi um único médico, porque todos tinham o saber e os meios para se curar a si mesmo.


Não encontrei nenhum padre, porque a consciência era então o sumo sacerdote. Nem vi um advogado, porque a natureza tinha tomado o lugar dos tribunais e os tratados de amizade e companheirismo reinavam.


Vi que o homem sabia que era o alicerce da criação e que se tinha elevado acima da mesquinhez e da baixeza, e tirado o véu da confusão dos olhos da alma; esta alma agra consegue ler o que as nuvens escrevem na face do céu e o que a brisa desenha na superfície da água; percebe agora o significado do sopro da flor e das cadências do rouxinol.


De trás dos muros do Presente, no palco das eras por vir, vi a Beleza como um noivo, o Espírito como uma noiva e a vida como a Noite cerimonial do Kedre.*


* Uma noite da quaremas muçulmana durante a qual, segundo se diz, Deus concede aos fiéis os seus desejos.

imagesCADK3235 “Esta bela parábola de Gibran nos leva ao mundo encantado de sonho e fantasias e alegres ilusões, e nos ensina que a única alegria verdadeira é a presença de Deus em nossos corações.

Assim como na noite de Keder, na qual se diz que Deus atende os desejos dos devotos, vamos unir as nossas orações e pedir que a Noite Santa do Natal, traga amizade, solidariedade e fortaleça a fé e o amor e que renasça a esperança e a fraternidade, e com alegria nos corações festejamos a vinda de Jesus.”

Said Salomão

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